Uma segunda variação, conhecida como Delayed Choice, posiciona o detector entre as fendas e a tela, de modo que o detector poderá medir por qual fenda a partícula passou. Novamente, mas não de forma previsível segundo nossas concepções clássicas, o padrão de interferência é destruído. Esta versão do experimento de dupla fenda é ainda mais contraditória com o padrão clássico, visto que os fótons ou elétrons já atravessaram as fendas antes de serem detectados pelo detector. O resultado significa que a detecção a posteriori modificou o caminho passado das partículas? Poderia ser um sinal de quebra de causalidade?
A resposta para essas questões foge ao nosso escopo. Contudo, parte do problema está em pressupostos escondidos carregados pelos conceitos clássicos de partículas, ondas, e pela forma como descrevemos classicamente o movimento desses objetos. Em primeiro lugar, ainda que didaticamente eficiente, a representação os fótons ou elétrons como frentes de onda que se propagam no espaço, como o caso do vídeo da fig. \ref{548777}, não reflete a descrição quântica. De fato, o experimento de dupla fenda usual é um sistema estacionário, portanto, independente do tempo. É apenas uma ilusão a visão de elétrons e fótons partindo do canhão, passando pelas fendas e atingindo a tela como eventos sucessivos no tempo. A segunda ilusão é carregar para este problema nossas concepções de localidade clássicas. Os fenômenos quânticos, pelo contrário, são não locais.
Uma terceira questão é ainda mais importante. A mecânica quântica de Schrödinger e Heisenberg não é a teoria fundamental por trás dos fenômenos quânticos. Assim, podemos estar utilizando a teoria e interpretação equivocadas para entender o que ocorre neste experimento em particular, assim como em outros. A teoria quântica de campos, na qual as partículas são conceitos derivados dos campos quânticos, é um cenário no qual os problemas de interpretação da mecânica quântica parecem se dirimir.
Para nós, a lição é a de que os conceitos e teorias clássicas possuem validade restrita, que depende do tipo de sistema físico. Nossa tentativa de estabelecer os conceitos de partícula, interação e movimento, e o próprio conceito de medida como interação negligenciável do observador com o sistema, falham em um grande número de situações.