Vamos explorar essa possibilidade, mostrando uma conversa detalhada e direta com o chatGPT. Nessa conversa, vamos abordar vários tópicos para tentarmos demonstrar porque o chatGPT tem sido tão admirado e temido por quem produz e trabalha com conteúdos intelectuais. Ao final, vamos refletir sobre a questão: professores podem vir a ser substituídos por um sistema de inteligência artificial como esse? Não, se não quisermos.

A novidade

Em 2022, a empresa OpenAI  tornou acessível ao público alguns de seus produtos, entre os quais, o gerador de imagens DALL-E 2 e o sistema de conversação ChatGPT-3. A OpenAI resulta de um empreendimento iniciado em 2015, entre outras pessoas, por Elon Musk, o multibilionário dono da Tesla, da Space X e agora do Twitter, e por Sam Altman, um cientista da computação e investidor anjo (investe basicamente em startups), com participação em vários negócios inovadores como Airbnb, Reddit e, entre outros, a OpenAI.
O objetivo da empresa era criar uma inteligência artificial que pudesse se comunicar de forma amigável e produzir conteúdo de qualidade. De início, a OpenAI teve o apoio da Amazon e era um projeto sem fins lucrativos. Em 2018, mudou seu perfil com a estratégia de comercializar os produtos que estavam sendo desenvolvidos. Nesse mesmo ano, Elon Musk saiu da companhia para se concentrar no desenvolvimento do seu próprio projeto de inteligência artificial para os carros autônomos da Tesla. No ano seguinte, a Microsoft tornou-se parceira da OpenAI e entrou com um investimento de US$1 bilhão, com acesso aos recursos da infraestrutura de computação do Azure.
Em 2020, a OpenAI lançou o GPT-3, um modelo de processamento de linguagem natural (PNL) que utiliza recursos de aprendizagem de máquina. A sigla GPT significa Generative Pre-trained Transformer (Transformador Generativo Pre-treinado). O número três representa a terceira geração do modelo. Grosso modo, essa sigla quer dizer que o sistema gera novas sentenças a partir da probabilidade da ocorrência de determinadas sequências de palavras previamente analisadas. Para encontrar a probabilidade de gerar o texto com sequência correta de palavras para uma dada pergunta, o modelo utiliza um conjunto enorme de textos que compõe os zettabytes de informações disponíveis na Internet, que todos nós alimentamos diariamente.
No ano de 2022, a OpenAI colocou à disposição do público um novo formato de seu mecanismo de IA e chamou de ChatGPT-3. A Microsoft anunciou, em 2023, seu interesse em adquirir a tecnologia e incluí-la em produtos como o buscador Bing e o pacote Office 365 (Word, Powerpoint, Excel), além de outros usos. Várias outras empresas estão desenvolvendo produtos similares e muito provavelmente, em breve, essa tecnologia estará incorporada em vários serviços utilizados pelo público e por empresas. O ChatGPT, inclusive, foi pautado como tema no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em 2023.

Por que o burburinho?

Inteligência artificial e aprendizagem de máquina não são tecnologias novas. Os primeiros experimentos computacionais nessas áreas datam dos anos 50 do século XX. Atualmente, já convivemos, sem nos darmos conta, com várias decisões realizadas automaticamente por sistemas baseados em IA, em áreas tão diversas como comércio, indústria, finanças, governos, serviços públicos em geral. Mas, o GPT apresenta um nível de resultado bem superior a tudo que se produziu, até o momento, nesse campo de processamento de linguagem natural.
Para uma comparação inicial, o GPT não é um sistema de busca como o Google que, uma vez feita uma consulta, o mecanismo vasculha a internet em busca dos resultados que contém, em várias partes da página de texto, as palavras buscadas.
Um sistema como o GPT, assim como os assistentes virtuais Cortana, Alexa e Siri, decompõe a pergunta em unidades linguísticas, para simular uma ”compreensão” do que se está solicitando como resposta. Por isso, se trata de um modelo de processamento de linguagem natural, um campo científico complexo, que une a linguística e a ciência da computação.
A partir desse ”entendimento” do conteúdo da frase inicial, o modelo busca os resultados mais satisfatórios para a pergunta em sua base de informações textuais. Encontradas as informações com mais alta probabilidade de satisfazerem a pergunta, o modelo compõe a resposta utilizando o mecanismo de processamento de linguagem natural e gera um novo texto de saída. Assim, o texto criado pelo GPT não é uma cópia de um texto da Internet simplesmente, ou uma resposta padrão (como muitos dos assistentes virtuais). É um novo texto, criado a partir das informações encontradas em seu corpus.
Os termos ”compreensão” e ”entendimento” estão entre aspas porque se trata de um sistema computacional. Como escreveu Hobbes, na introdução do ”O Leviatã” (em 1651), um mecanismo com molas e partes mecânicas, como um relógio, mesmo que funcione de forma autônoma, não tem vida. Podemos dizer que o mesmo vale para os sistemas robóticos e computacionais, ao menos até esse momento.
A qualidade do resultado dos produtos de IA da empresa OpenAI é refinada ao ponto de se confundir com uma produção humana. Por exemplo, o sistema DALL-E, similar ao GPT para a criação de ilustrações a partir de palavras, ganhou um concurso de artes no estado do Colorado, nos Estados Unidos. A ilustração vencedora, chamada de ”Théâtre D’opéra Spatial”, foi feita no DALL-E por Jason Allen (que, na verdade, foi quem levou o prêmio do concurso). Esse fato abriu um intenso debate entre ilustradores e designers sobre o papel da IA para as artes.