Sim, Jason instruiu a AI, ele definiu as palavras que orientaram o
sistema DALL-E a criar a imagem. Talvez até tenha feito algum retoque
final em um programa de edição de imagens. Mas a criação não foi
resultado da imaginação de Jason. Foi o resultado de um amálgama de
imagens pré-treinadas pelas redes neurais do sistema DALL-E. Uma
ilustração gerada assim por um software pode ser considerada arte? O
fato é que a imagem gerada por DALL-E impactou os jurados a ponto de
levar o prêmio do concurso.
O ChatGPT cria textos como respostas a perguntas feitas pelos usuários.
Mas não são apenas respostas simples. O grau de maturidade da tecnologia
e o volume de informações treinadas permitem que se mantenha uma
conversa contextualizada com o sistema. Além disso, o ChatGPT pode gerar
códigos de programação, criar poemas, responder e-mails, fazer roteiros
de blogs e criar vários outros tipos de texto, inclusive escrever
artigos.
O resultado foi avaliado, a pedido da reportagem, por duas professoras
de redação, Marina Rocha e Flávia Consolato. A nota final da redação,
escrita pelo ChatGPT, ficaria, segundo as especialistas, em 680 de um
máximo de 1.000 pontos. A nota média dos candidatos do ENEM gira em
torno de 588 pontos!
Em um outro exemplo, o economista Pedro Fernando Nery apresentou um
texto parcialmente escrito pelo ChatGPT em sua coluna no Estadão e
colocou o título
”
Não
escrevi esta coluna, foi uma inteligência artificial”. O artigo mostra
como o conteúdo criado pelo ChatGPT pode facilmente ser confundido com
textos criados por pessoas.
Há várias outras matérias em jornais, revistas especializadas e até
vídeos no YouTube com esse mesmo teor. Um artigo do jornal britânico,
The Guardian, anunciava em 2020:
”
A
robot wrote this entire article. Are you sacred yet, human?”. A
autoria do artigo, publicado na coluna de opinião do jornal, tinha a
assinatura: GPT-3.
A matéria do The Guardian exemplifica bem que, complementado o espanto e
fascínio, assinalados pelo colunista Pedro Nery, a qualidade do conteúdo
produzido pelo ChatGPT também assusta.
O temor decorre de duas incertezas que assombram quem se depara pela
primeira vez com essa tecnologia. A primeira dúvida que surge se trata
de como diferenciar um texto escrito por um mecanismo artificial do
trabalho intelectual criado por um humano? Há diferenças? A IA tem
criatividade, tem lógica, consegue se referir a um argumento
contextualizado? Ou seriam esses atributos exclusivos de conteúdos
produzidos por humanos?
A segunda questão, que parece ser uma decorrência lógica da primeira
(mas não é): se não for possível diferenciar o conteúdo produzido por
inteligência artificial do conteúdo produzido por pessoas, então, logo,
por consequência, as pessoas serão substituídas pela IA? Não,
necessariamente.
Plágio e outros perigos reais
Quando se pensa no uso do ChatGPT no ensino, a primeira reação é o temor
do plágio. Se é possível produzir um texto, como uma redação do ENEM ou
uma coluna de jornal, em alguns segundos com o ChatGPT, como será
possível evitar que os alunos recorram a essa tecnologia para burlar os
trabalhos escolares? O risco de plágio é real. Em Nova Iorque, nos
Estados Unidos,
as escolas
públicas proibiram o uso do ChatGPT.
Um risco que vai além do ensino está no potencial que esse tipo de
serviço de conversação baseado em IA pode ter para
o
cibercrime.
A tecnologia, ainda não disponível publicamente, anunciada pela
Microsoft, chamada
de
VALL-E, apresenta um
risco ainda maior. Esse sistema pode imitar uma voz humana, incluindo as
entonações e emoções da fala, com uma amostra de apenas 3 segundos da
fala original.
As oportunidades
Toda mudança tecnológica traz riscos, mas também oportunidades. O plágio
acadêmico é
um
problema
ao menos desde os tempos medievais. Enfrentar esse problema é um
assunto urgente e merece uma reflexão a parte. Mas coibir um tipo
específico de tecnologia nas escolas não vai reduzir o plágio. Assim
como dar acesso à tecnologia não vai aumentar a cópia de trabalhos.
Talvez o ChatGPT seja um problema para os donos de serviço online,
encontrados aos montes na Internet, com milhões de trabalhos, TCC e
teses prontas.