Nos anos 1970, havia um debate acalorado sobre o uso ou não das então calculadoras pessoais nas escolas. Muitos especialistas alardeavam que o raciocínio matemático seria perdido, ninguém mais iria decorar uma tabuada, quanto mais saber fazer uma divisão ou uma multiplicação. Atualmente, há um cuidado sobre o momento e a melhor forma pedagógica de se utilizar calculadoras em sala de aula. Mas não há o tom de temor que havia quando as calculadoras chegaram ao público.
Do mesmo modo, olhando para o passado, pode se ver o tanto que é equivocada a ideia, muito recorrente, de que a tecnologia inovadora, qualquer seja, tem um uso predeterminado, geralmente maléfico. O argumento é de que a tecnologia não é neutra e traz embutida em si um sentido de uso que condiciona os usuários a um determinado fim.
A tecnologia não é neutra e nem não neutra. Apenas as pessoas têm posicionamentos e podem ser classificadas como a favor, contra ou neutras em relação a alguma coisa. Uma calculadora pode ser usada tanto por uma pessoa criminosa, quanto por quem está recolhendo doações para caridade. É o uso da tecnologia, independentemente de como foi concebida, que impacta a vida social.
A IA tende a evoluir bastante no aspecto da relação humano-máquina. O ChatGPT e os demais programas similares, são protótipos funcionais que anunciam o potencial para o trabalho docente. São tecnologias que devem ser conhecidas e apropriadas por alunos, professores e escolas. Virar as costas para essas mudanças é tornar-se refém das decisões de outras pessoas, que não vão parar de investir e desenvolver esses produtos.
No caso do plágio, a inteligência artificial pode ser aliada na detecção de trabalhos copiados. Os dados dos processos de ensino e aprendizagem podem ser mais bem trabalhados, oferecendo respostas diretas para a condução dos programas em sala de aula. Várias outras oportunidades, com certeza, serão criadas com o avanço da tecnologia e podem ser usadas para a melhoria do ensino, desde que docentes estejam desde já envolvidos nessas decisões.
Do ponto de vista do uso de um sistema como o ChatGPT, o grande potencial para o ensino está na possibilidade de professores poderem construir ações dialógicas com os alunos em sala de aula. O potencial do uso de um chatbot avançado, que simule de fato uma conversa contextualizada como um humano, está em poder criar formas de construção de caminhos de diálogos, o que é fundamental para o pensamento inovador e crítico, ou seja, aquela capacidade de poder explorar todos os ângulos possíveis de uma determinada questão até a busca de uma síntese, com uma nova perspectiva explicativa para o tema.
Não é a cópia de texto criado pelos ChatGPT a novidade. Textos prontos para serem copiados já estão disponíveis aos montes na Internet. Também não é a busca de resposta ”certa” sobre um determinado assunto. Não são as descrições sobre os conceitos ou as opiniões. Para tudo isso também já há inúmeras ferramentas, desde enciclopédias até sites inteiros com perguntas e respostas prontas disponíveis online. O que há de inovador em um chatbot é a construção do diálogo como a ferramenta pedagógica.

Conversando com o ChatGPT

Para ilustrar um pouco como funciona o ChatGPT e como o diálogo se estabelece, vamos reproduzir uma conversação sobre alguns tópicos que podem dar uma ideia do potencial dessa ferramenta em sala de aula.